quarta-feira, 4 de abril de 2007

ESPECIAL ESCOLA PARTE 1





ESPECIAL ESCOLAS PARTE 1
PROFISSÃO PERIGO: PROFESSOR

No artigo passado, procurei evidenciar a dificuldade de se diagnosticar uma criança hiperativa e seu correlato com o convívio de adultos estressados. Chega o momento então de falar do estresse do professor, o profissional que mais compartilha seu tempo com crianças e adolescentes.
Segundo dados do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), 46% dos professores do sexo masculino apresentaram licença que tem como pano de fundo o estresse, entre as mulheres o número chega assustadoramente aos 51%.
Primeiramente, o que é estresse? Estresse é toda reação que nosso organismo físico e psíquico oferece frente a uma situação interpretada como ameaçadora.
Mas o que acontece com o professor?
Em primeiro momento, cabe dizer que muitos professores são pressionados a terem seus currículos atualizados ou dar conta de uma lacuna no espaço entre sua formação e outras concepções educativas, de modo que o professor não atinge seus objetivos educacionais.
Se antes os professores contavam com o apoio e valorização dos pais, hoje, as modificações no mercado de trabalho fazem com que muitos pais, por trabalharem para garantir o sustento da família, não tenham êxito na educação mais básica: limites para o filho e valores da boa convivência. Tal fato traz como conseqüência direta nas salas de aula a ausência de limites dos alunos, fazendo com que o professor tenha além do conteúdo a ser trabalhado, chame a atenção para qualquer ocorrência surgida na sala de aula. Como é de se esperar, facilmente o estresse aparece. Para conseguir respeitos dos alunos, muitos professores ainda valem-se dos gritos e punições, aumentando ainda mais a carga de estresse dentro da escola, já que o estresse é uma reação contagiante. Se o aluno grita, é comum o professor gritar mais alto e em pouco tempo o ambiente passa a ser muito estressante para qualquer um que ali permaneça.
Outro fator decisivo para o estresse do professor é a mudança de seu papel. Atualmente é preciso ser ainda mais criativo para tornar o conhecimento dado em aula interessante e útil ao aluno. Como conseguir, entretanto tempo para preparar aulas se o professor muitas vezes dá aulas em mais que uma escola? (cada uma, diga-se com uma maneira de funcionar própria, com uma demanda de alunos específica)
A violência contemporânea também é uma outra grande vilã desta história. Muitos professores têm receio de trabalhar com alunos cujas comunidades são conhecidas por serem violentas, palcos de ação de traficantes, etc. Há ainda o receio do professor que ao chamar os pais para explicar sobre o comportamento do filho sejam agredidos tanto por alunos, como por pais. Sem contar o receio que professores tem de que os alunos sejam espancados em casa, porque infelizmente é assim que muitos pais pensam que estão educando seus filhos.
Se não consegue passar o conteúdo (para o qual estudou, preparou aulas (sim, professores muitas vezes PERDEM horas de descanso e lazer para preparar aulas), não consegue o respeito dos seus alunos (e muitas vezes de outros colegas de profissão), e não ganha o suficiente para manter-se em uma só escola, não é de se estranhar que a baixa auto estima, a depressão e o estresse atinjam o professorado).
A Síndrome de Burnout nome dado ao quadro sintomatológico de profissionais que lidam com pessoas (médicos, policiais, professores, etc) te como características sintomas depressivos, comportamentais e ligados ao estresse.
O nome da síndrome vem da língua inglesa: To Burn out (queimar-se por inteiro/ consumir-se) dá uma boa dica: é uma síndrome ligada ao esgotamento.
Vejamos no quadro abaixo:



DEPRESSÃO
TRANSTORNOS COMPORTAMENTAIS
TRANSTORNOS LIGADOS AO ESTRESSE
Tristeza prolongada
Dormir pouco ou demasiadamente
Absenteísmo (o professor falta em excesso para não ter que ir a escola)
Sensação de vazio
Impaciência
Negatividade (o professor não consegue ver o resultado dos próprios esforços e nem dos seus alunos)
Ataques de choro
Desejo de isolamento
Garganta seca (professores passam horas falando não hidratando as cordas vocais)
Hábitos modificados no que diz respeito ao repouso ou alimentação.
Dificuldade para concentrar-se ou tomar decisões
Medo de expressar-se com companheiros de trabalho (coordenadores, diretores, supervisores e até mesmo outros professores)
Perda de vontade de cuidar-se.
Perda ou aumento do apetite e do peso.
Síndrome do Pânico (apresentando muitos dos sintomas de toda a tabela)
Fadiga ou perda de energia
Irritação com ruídos: telefones, televisores, aparelhos de som, celulares, passam a ser fonte de estresse para o professor.
Dificuldade para envover-se em qualquer atividade prazerosa
Sentimento de culpa, desesperança ou inutilidade
Falta de paciência e de vontade de interagir com seus próprios filhos, familiares e amigos.
Aumento do consumo de café, cigarros, bebidas alcoólicas ou medicações para dormir.
Inquietação e irritabilidade
Alteração entre passividade e tirania: ou não se manifesta ou exige controle absoluto sobre as coisas e pessoas.
Baixa Auto estima Profissional



Não incomum, os professores que são pais e mães também tem que lidar com a educação dos filhos. Como conseguir educar os filhos se passou o dia todo estressado justamente educando? Ou ainda: muitos professores perdem a paciência com seus próprios filhos, gritando e punindo, tornando o estresse ainda mais intenso.
Os manuais de sucesso que se vê nas livrarias não ensinam, entretanto que é preciso outro olhar/ escuta para as relações humanas. Todo ser humano precisa ser ouvido, e o professor para conseguir lidar bem com os novos desafios de sua profissão merece ser ouvido e acolhido.



Ψ José Carlos da Costa Ψ – psicólogo de orientação psicanalítica e psicopatólogo.
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