quinta-feira, 9 de agosto de 2007

OS PAIS QUE PRECISAMOS CONVERSAR NÃO APARECEM NA REUNIÃO!


Trabalho como Psicólogo escolar. E certa vez ouvi de uma professora a frase acima. Você também já deve ter ouvido isso, seja como aluno, como pai, como mãe ou como aluno.
Qual seria a base da questão que afasta pais e professores, já que ambos os lados se interessam pelo melhor da criança/ adolescente?
Penso que um dos grandes problemas nas escolas seja a comunicação: A comunicação entre Supervisor e Diretor, entre Diretor e Coordenador, entre Coordenador e Professores, entre Professores e Professores e entre Professores e alunos, entre alunos e outros alunos e daí para diante!
As pessoas tem o péssimo hábito de recorrer à comunicação direta somente em último caso, e na escola, não é diferente.
As reuniões de professores, também chamadas de HTPCs (Horário Trabalho Pedagógico Coletivo, não raramente são informes ou momentos nos quais os professores aproveitam para reclamar dos alunos. Só que apenas reclamar de nada adianta. Torna-se chato e cansativo, quando não, momento nos quais o professor divaga: está presente de corpo e sua mente está em outro lugar, igualzinho àquele aluno que não consegue prestar atenção na aula.
Se a reunião é entre Pais e Mestres (como assim era chamada), além de reclamações os pais ouvem advertência sobre suas posturas, sobre o comportamento vexatório e impróprio do filho. Cá entre nós: você voltaria na escola para ouvir novas reclamações? Os pais (como aliás, todo ser humano) tem no filho parte do seu narcisismo, e ter esse filho atacado/ apontado ou destacando-se negativamente, é esse mesmo narcisismo que é atacado, ou ainda em outras palavras: é como se o pai/mãe/ responsável ouvisse do professor: “VOCÊ É UM INCAPAZ, É UM FRACASSADO PORQUE SEU FILHO SÓ DÁ TRABALHO”.
Entre alunos a coisa não muda. Certa vez vi um grupo de alunos querendo comemorar o Dia das Bruxas. Um outro grupo achava que deveria se comemorar o Dia do Saci (numa alusão ao folclore brasileiro ao invés do britânico/ americano). A marca maior foi de um grupo de alunos evangélicos que rompeu com esse outro grupo de alunos, recusando-se a fazerem tarefas juntos, sentarem juntos ou conversarem. Em suma: é preciso para que o dialogo aconteça e se estabeleça na escola como política educacional urgente!
Por dialogo entenda-se um momento no qual as diferenças sejam conhecidas, expressadas, discutidas e quiçá, respeitadas. Não podemos, entretanto, cair na tentação de se idealizar a escola como espaço perfeito.
Mas pode-se melhorar esse espaço. Desde o tom da fala, a escolha das palavras, o momento na qual a mensagem é dirigida, a coesão da mensagem, enfim, tudo isso faz parte da comunicação humana. Em uma outra escola ouvi certa vez: “Calem a boca, não conseguem fazer nada sem gritar?” – a frase era do professor. Será que ele se deu conta do quão contraditória era sua fala?
Porém principalmente: é preciso garantir um local de escuta, acolhimento e de expressão dos conflitos e crises que estão presentes em todos os relacionamentos humanos. E para isso, aposto numa interface entre Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, afinal, todas elas lidam com o ser humano.


Ψ José Carlos da Costa Ψ – psicólogo de orientação psicanalítica Orientação Profissional e Educacional
Rua São Pedro, 263, Jardim São Francisco – Caieiras- SP
(próximo ao Campo São Francisco)
CEP 07700-000
Å: 11 4605 44 10
11 7351 77 58 e-mail: josecarlos_psico@hotmail.com ou carlospsico@uol.com.br

quarta-feira, 4 de abril de 2007

ESPECIAL ESCOLA PARTE 1





ESPECIAL ESCOLAS PARTE 1
PROFISSÃO PERIGO: PROFESSOR

No artigo passado, procurei evidenciar a dificuldade de se diagnosticar uma criança hiperativa e seu correlato com o convívio de adultos estressados. Chega o momento então de falar do estresse do professor, o profissional que mais compartilha seu tempo com crianças e adolescentes.
Segundo dados do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), 46% dos professores do sexo masculino apresentaram licença que tem como pano de fundo o estresse, entre as mulheres o número chega assustadoramente aos 51%.
Primeiramente, o que é estresse? Estresse é toda reação que nosso organismo físico e psíquico oferece frente a uma situação interpretada como ameaçadora.
Mas o que acontece com o professor?
Em primeiro momento, cabe dizer que muitos professores são pressionados a terem seus currículos atualizados ou dar conta de uma lacuna no espaço entre sua formação e outras concepções educativas, de modo que o professor não atinge seus objetivos educacionais.
Se antes os professores contavam com o apoio e valorização dos pais, hoje, as modificações no mercado de trabalho fazem com que muitos pais, por trabalharem para garantir o sustento da família, não tenham êxito na educação mais básica: limites para o filho e valores da boa convivência. Tal fato traz como conseqüência direta nas salas de aula a ausência de limites dos alunos, fazendo com que o professor tenha além do conteúdo a ser trabalhado, chame a atenção para qualquer ocorrência surgida na sala de aula. Como é de se esperar, facilmente o estresse aparece. Para conseguir respeitos dos alunos, muitos professores ainda valem-se dos gritos e punições, aumentando ainda mais a carga de estresse dentro da escola, já que o estresse é uma reação contagiante. Se o aluno grita, é comum o professor gritar mais alto e em pouco tempo o ambiente passa a ser muito estressante para qualquer um que ali permaneça.
Outro fator decisivo para o estresse do professor é a mudança de seu papel. Atualmente é preciso ser ainda mais criativo para tornar o conhecimento dado em aula interessante e útil ao aluno. Como conseguir, entretanto tempo para preparar aulas se o professor muitas vezes dá aulas em mais que uma escola? (cada uma, diga-se com uma maneira de funcionar própria, com uma demanda de alunos específica)
A violência contemporânea também é uma outra grande vilã desta história. Muitos professores têm receio de trabalhar com alunos cujas comunidades são conhecidas por serem violentas, palcos de ação de traficantes, etc. Há ainda o receio do professor que ao chamar os pais para explicar sobre o comportamento do filho sejam agredidos tanto por alunos, como por pais. Sem contar o receio que professores tem de que os alunos sejam espancados em casa, porque infelizmente é assim que muitos pais pensam que estão educando seus filhos.
Se não consegue passar o conteúdo (para o qual estudou, preparou aulas (sim, professores muitas vezes PERDEM horas de descanso e lazer para preparar aulas), não consegue o respeito dos seus alunos (e muitas vezes de outros colegas de profissão), e não ganha o suficiente para manter-se em uma só escola, não é de se estranhar que a baixa auto estima, a depressão e o estresse atinjam o professorado).
A Síndrome de Burnout nome dado ao quadro sintomatológico de profissionais que lidam com pessoas (médicos, policiais, professores, etc) te como características sintomas depressivos, comportamentais e ligados ao estresse.
O nome da síndrome vem da língua inglesa: To Burn out (queimar-se por inteiro/ consumir-se) dá uma boa dica: é uma síndrome ligada ao esgotamento.
Vejamos no quadro abaixo:



DEPRESSÃO
TRANSTORNOS COMPORTAMENTAIS
TRANSTORNOS LIGADOS AO ESTRESSE
Tristeza prolongada
Dormir pouco ou demasiadamente
Absenteísmo (o professor falta em excesso para não ter que ir a escola)
Sensação de vazio
Impaciência
Negatividade (o professor não consegue ver o resultado dos próprios esforços e nem dos seus alunos)
Ataques de choro
Desejo de isolamento
Garganta seca (professores passam horas falando não hidratando as cordas vocais)
Hábitos modificados no que diz respeito ao repouso ou alimentação.
Dificuldade para concentrar-se ou tomar decisões
Medo de expressar-se com companheiros de trabalho (coordenadores, diretores, supervisores e até mesmo outros professores)
Perda de vontade de cuidar-se.
Perda ou aumento do apetite e do peso.
Síndrome do Pânico (apresentando muitos dos sintomas de toda a tabela)
Fadiga ou perda de energia
Irritação com ruídos: telefones, televisores, aparelhos de som, celulares, passam a ser fonte de estresse para o professor.
Dificuldade para envover-se em qualquer atividade prazerosa
Sentimento de culpa, desesperança ou inutilidade
Falta de paciência e de vontade de interagir com seus próprios filhos, familiares e amigos.
Aumento do consumo de café, cigarros, bebidas alcoólicas ou medicações para dormir.
Inquietação e irritabilidade
Alteração entre passividade e tirania: ou não se manifesta ou exige controle absoluto sobre as coisas e pessoas.
Baixa Auto estima Profissional



Não incomum, os professores que são pais e mães também tem que lidar com a educação dos filhos. Como conseguir educar os filhos se passou o dia todo estressado justamente educando? Ou ainda: muitos professores perdem a paciência com seus próprios filhos, gritando e punindo, tornando o estresse ainda mais intenso.
Os manuais de sucesso que se vê nas livrarias não ensinam, entretanto que é preciso outro olhar/ escuta para as relações humanas. Todo ser humano precisa ser ouvido, e o professor para conseguir lidar bem com os novos desafios de sua profissão merece ser ouvido e acolhido.



Ψ José Carlos da Costa Ψ – psicólogo de orientação psicanalítica e psicopatólogo.
Rua São Pedro, 263, Jardim São Francisco – Caieiras- SP
(próximo ao Campo São Francisco)
CEP 07700-000
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quinta-feira, 29 de março de 2007

HIPERATIVADE DA CRIANÇA OU ADULTOS ESTRESSADOS?




No Brasil os dados percentuais de crianças e adolescentes que apresentam hiperatividade ou TDAH (transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) ou ainda outros distúrbios de atenção no Brasil são muito vagos.
· Muito comum a escola encaminhar alunos com suspeita de Hiperativade para tratamento psicoterapeutico. Embora seja menor que se imagina, acredita-se que pelo menos 7% dos alunos em idade escolar apresentam sintomas que, associados, moldam o quadro desse transtorno. Aqueles alunos que os professores classificam como “pestinhas” são os mais propensos a desenvolver o distúrbio que é caracterizado por: Fala excessivamente rápida e inteligível (de difícil compreensão e misturando vários assuntos ao mesmo tempo).



· Dificuldade de esperar sua vez para jogos, conversas, etc. (impedindo uma socialização com outras pessoas)
· Dificuldade de brincar ou de se envolver em uma brincadeira prazerosa.
· Hábito de perder objetos necessários (materiais escolares, brinquedos, ferramentas, chaves, etc)
· Dificuldade de ouvir quando a fala não lhe é dirigia em particular (uma aula, por exemplo)
· Hábito de evitar ou ficar relutante em se envolver em atividades que exijam esforço mental (jogos de xadrez, dama, lições de casa)
· Memória apresentando dificuldades para leitura, leitura de problemas de matemática, etc.
· Dificuldades em manter a atenção.
· Dificuldades em seguir ordens, instruções ou regras.
· Dificuldades para ficar quieto, sentado e trabalhar de forma independente na sala de aula;(entre outros sintomas).
Esses alunos possuem um comportamento demasiadamente inquieto que interrompe a concentração de seus colegas e geralmente resulta em relações pobres com os demais alunos. Adicionalmente, esses problemas geralmente são acompanhados por outros associados (por exemplo, baixa auto-estima, depressão) que pode afetar significativamente a performance desses estudantes.

O que não fica claro nos dados ou nos sintomas é o intenso sofrimento destas crianças. Simplesmente não conseguem relaxar ou ter o devido envolvimento em atividades que poderiam lhes dar prazer, as vezes as mais básicas como comer e dormir ou sentar para ver um desenho animado, o que deixa as deixa ainda mais estressadas e inquietas, levando a um completo ciclo vicioso. Sem falar no desgaste emocional dos adultos ou responsáveis por sua educação que não assimilam os sintomas a um sofrimento, considerando ser por parte da criança apenas uma manifestação de rebeldia ou teimosia, infligindo, portanto castigos (o que aumenta ainda mais a sensação de baixa estima e a agressividade/ impulsividade)
Chamo ainda a atenção para o fato de crianças absorverem muito dos adultos com quem convive. Todos sabemos das salas numerosas, as muitas responsabilidades que o professor enfrenta, o que ocasiona uma porta de entrada para o estresse. Uma pessoa estressada não tem a mesma disposição psíquica e emocional para cuidar e orientar crianças. Logo, daí a considerar a criança “hiperativa” é um passo equivocado nada incomum.
Posso dizer o mesmo para os pais: se os filhos presenciam os pais constantemente discutindo, preocupados, insones, viciosos (beberem ou fumarem em demasia), e tensos acabam por absorver a ansiedade ambiental e reproduzi-la em sua vivência infantil, cabendo lembrar que a depressão infantil se apresenta de maneira TOTALMENTE diferente da do adulto, tendo a criança crises e picos de isolamento (mesmo assim inquieto) com períodos de intensa agitação e irritação .
Importante e necessário é a verificação diagnóstica da presença de TDAH junto de um especialista que poderá orientar e intervir de maneira preventiva no desenvolvimento destes sintomas

Ψ José Carlos da Costa Ψ (psicólogo e psicopatologo
Rua São Pedro, 263, Jardim São Francisco – Caieiras- SP
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sexta-feira, 23 de março de 2007



COMÉDIA DA VIDA NÃO PRIVADA

Há algum tempo já o fenômeno dos reallity shows tem tomado boa parte das discussões em relação a TV.
No entanto, a vida alheia parece interessar muito desde sempre. As fofocas por exemplo, são uma velha forma de “investigar” ou “dar uma espiadinha” na vida alheia. As revistas de fofoca sobre a vida dos artistas sempre venderam muito bem. O reallity show parece-me um superlativo do que já existia antes.
Mas, o que afinal, atraí tanto na vida alheia? O Bom dito popular diz que quem cuida muito da vida do outro é porque tem a própria vida em pedaços. Faz muito sentido, mas há outras partes do processo que são valiosas de serem analisadas.
Boa parte do vasculhar a vida alheia é movida pela curiosidade. Em certo ponto, até saudável. Quem nunca teve um professor legal e gostaria de saber como ele é em casa? Ou imaginou como seria um ídolo como amigo ou como pessoa? No entanto, como ensina Freud e Lacan, o Outro é parte de nossa identidade. Adquirimos noções de linguagem, mundo e realidade através do contato com outras pessoas, assim como também lançamos em direção a esse outro nossos desejos e anseios.
Começa cedo: na relação Mãe/ Bebê existe uma relação simbiótica (na qual o bebê não percebe a mãe como um ser diferente). Somente com o desenvolvimento é que gradativamente o bebê vai percebendo que a mãe não está disponível o tempo todo porque surgem interferências (seja do pai, do trabalho da mãe, etc) que frustram o bebê no desejo de estar sempre com a mãe. E isso é muito importante porque o bebê então desloca parte do interesse exclusivo pela mãe para outras pessoas, para o mundo. Em certa proporção, todos nós precisamos do olhar alheio para sabermos se somos bonitos, amados, inteligentes, etc.
Porém atualmente vive-se um tempo no qual a própria pessoa se tornou um item a ser consumido, criando a sociedade de espetáculo como aponta Amparo Caridade, um dos maiores teóricos sobre o assunto. Banalizamos de tal modo as relações humanas que a vida privada, particular e íntima deve ser mostrada sempre aos brilhos para que alguém possa se interessar por nós. Tanto que não raramente a revista Caras expõe em suas páginas a casa da Xuxa, Ronaldinho tomando café ou a lua de mel de algum emergente. No entanto, não nos enganemos: apesar de parecer isso não é intimidade!
No famoso Orkut (pagina na Internet de relacionamentos) há a exposição máxima: mostra-se um rosto sorridente, e enaltece-se no geral as qualidades. Há um desejo enorme de ser reconhecido pelo outro como alguém interessante, bonito e inteligente. Os reallity shows então, acrescentam à formula um item ainda mais interessante do ponto de vista psicanalítico: o desejo de transgredir. Se não é certo beber ou fumar, lá estão os “brothers” (como são chamados os participantes) bebendo e fumando. Se não é correto trair um relacionamento, lá estão eles com outros pares. Se falar palavrão é feio, lá estão eles deixando escapar e realizando o desejo de milhares de expectadores: serem vistos, admirados, invejados e transgredindo. E daí surge a identificação (afinal, os vencedores dos Big Brothers sempre são os mais populares ou que conseguem preencher o espaço dos desejos coletivos) responsável pela grande audiência destes programas. Até mesmo as novelas passam a exibir muito mais cenas do cotidiano (os depoimentos de Páginas da Vida que não me deixem mentir) e de MUITA intimidade.
Alguém poderia propor um Big Brother com nossos políticos, não?
Aliás, nota: o nome do Programa Big Brother é uma alusão ao famoso romance de George Orwell “1984” no qual relata um mundo eternamente vigiado por tele- câmeras fazendo com que todos se submetam à vontade do Ditador Grande Irmão).
De certa forma, a necessidade muito grande de ser reconhecido ou de ser aprovado pelo olhar alheio é um dos responsáveis pela anorexia, bulimia, vigorexia (excesso de exercícios físicos em geral nos homens) que surgem do medo de reprovação ou punição (não há nada pior que o desprezo diz novamente o dito popular!) de um Grande Irmão que se vê erroneamente nos olhos de todos que nos cercam.

José Carlos da Costa
Psicólogo e Psicopatólogo
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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

EDUCAÇÃO SEXUAL


Em matéria publicada no Jornal “Folha de São Paulo” datada aos sete dias do mês de fevereiro, vejo que o Governo Federal pretende distribuir para estudantes cartilhas sobre Educação Sexual com foco preventivo na AIDS? DST (doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência) e aumentar a distribuição de camisinhas nas escolas públicas.
Bem, vi com certo desânimo tais iniciativas. Penso que mais uma vez que a proposta de mudança de comportamento sobre a vida sexual tem um processo de mudança lento e bastante complexo.


Não podemos ter esperança de ver nossos cidadãos sendo educados por cartilhas se os professores não forem preparados. E aí mora outra grande questão: “por quê somente os professores?” Estamos terceirizando a educação e impedindo que a mesma se efetue num plano global, abrangendo família, estudante e comunidade. Os pais, os avos, os tios, enfim, todos que fazem parte da rede social devem ser instruídos para que mudanças tão complexas sejam iniciadas.


Em outras palavras, é no campo subjetivo (ou na forma de se pensar sobre o mundo) que as mudanças se formam. De nada adianta cartilhas e camisinhas se o Erótico não for respeitado e valorizado. Por erótico entenda-se a forma que Jung (psicólogo suíço) o compreende:

Jung denomina o amor de função transcendente, aspecto do processo de individuação que supera opostos irreconciliáveis. Ao propor o amor como elo de ligação entre Razão e Emoção, Eros (o amor) atua como a força que nos move e nos impulsiona a uma nova forma de se realizar e de se vivenciar a vida: a de produzirmos e a de integramos nossa compreensão sobre nós mesmos e sobre o outro.


Contardo Calligaris (psicanalista e colunista do Jornal Folha de São Paulo” alerta constantemente para o fato de estamos banalizando todos os aspectos importantes da cultura e dentre eles, o sexo, importantíssimo para a vida de qualquer pessoa.


Ainda temos piadas de cunho machista, sexista, homofóbicas, aprisionando, homens, mulheres, crianças, adolescentes, adultos, homossexuais, heterossexuais, , bissexuais e transexuais, pobres e ricos em papeis rígidos e antiquados que não condizem com a plasticidade dos desejos humanos. E como causam sofrimento!!! Como temos ainda homens que duvidosos de suas próprias sexualidades ainda espancam e estupram homossexuais e mulheres para provarem o seu conceito rígido e absolutamente frágil do que é ser homem.


Como novelas ainda mostram mulheres histéricas que necessitam de homens (e somente de homens) para dar sentido às suas vidas. Como reallity shows ainda mostram bobalhões cheios de anabolizantes preocupados em chocar e se mostrarem “machos” (questão: ser macho ou ser homem?) e políticos de situações complicadas como os famosos deputados eleitos que soltaram tempos atrás perolas como “estupra, mas não mata” e outro que mesmo sendo publicamente homossexual se declarar contra os projetos de união civil, mostrando claramente sua ignorância e arbitrariedade populista.


Como podemos ver, estamos ainda há muitos passos para uma mudança efetiva na vida e na compreensão da sexualidade, que como Freud já avisa quase 100 anos atrás: “não deve ser confundida com a mera junção dos genitais”.


O grande prazer da vida se estende para muitas áreas e em todas as manifestações de prazer reconectamos Eros e a possibilidade de nos transformarmos. E o amor não precisa de moralismos, leis, punições e de cartilhas, mas sim ser experimentado e vivenciado.

SEJAMOS RICOS, FELIZES, JOVENS E MAGROS


A morte da modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos nos últimos dias, reforça a (já) velha questão: “ Vale a pena ultrapassar os nossos limites para ter um corpo tido como o ideal?”.


Primeiro analisemos a raiz das questões ligadas ao corpo, o que, diga-se de passagem, são inúmeras: obesidade, comer compulsivo, anorexia, bulimia e vigorexia. Vivemos em uma sociedade de consumo exagerado e de espetáculo. Nesta sociedade, a imagem ganha importância que supera a identidade, fazendo com que muitas pessoas sofram por não atingirem ou terem as medidas do que é considerado ideal. E qual é esse ideal? Nossa sociedade de consumo, imagem e espetáculo também é uma sociedade que prega a juventude eterna e alegria sob qualquer custo. Por juventude idealiza-se uma época na qual o corpo está em pleno desenvolvimento, a vida sexual no auge e ainda se está livre das obrigações da vida adulta, bem como as transgressões são permitidas (ou tidas como parte do processo). No começo da matéria cito a profissão da jovem morta: modelo. Modelo do quê exatamente?


Algo está fora do controle: parece que há uma verdadeira obrigação em ser feliz (ou mostrar-se feliz) o tempo todo. Tal exigência cultural recaí sobre nossas cabeças diariamente nas capas das revistas: “Está deprimido? Faça abdominais”, “Perca x quilos em x dias e seja feliz”, “Mude, você consegue mudar seu corpo” (quase um correlato com “Você pode mudar sua identidade”).


Quem não é magro (ordem dirigida em especial ao público feminino) ou forte (ordem dirigida ao público masculino) está fora. Fora de que exatamente? Fora de ser alvo de ser o consumo ou um produto a ser consumido. Desejamos ser consumidos (ou valorizados) por nossa imagem e não por aquilo que realmente somos.


Jung pontuava a divisão da vida em duas fases distintas: a primeira (abrangendo a primeira metade da vida) faria com que nos preocupássemos em TER; já a segunda, viria de encontro às questões mais subjetivas e nos preocuparíamos em SER. Claramente vemos que há um desequilíbrio. Estamos impregnados com a questão do TER: ter o melhor corpo, o melhor cônjuge, o melhor emprego, melhor carro.


A insatisfação e os obstáculos (ou limitações) não são bem vistos culturalmente falando e espera-se que todo sujeito faça de tudo para ser feliz o tempo todo, desrespeitando os próprios limites e ritmos humanos.


Não incomum, vemos as pessoas tentando resolver suas questões mais íntimas nas academias (isso quando o pavor de ser magro/ gordo/ fraco não impede até mesmo a aproximação com academias) e se esquecendo de verificar a raiz de seus desejos.


A questão ligada ao corpo embute uma outra ainda maior e mais delicada: “ O que são homens e mulheres?” ou “Que noções do que é ser homem/ mulher estamos reforçando?” Podemos pensar na hipótese de que ser homem ou mulher é ser um produto para ser consumido, embalado e propagado da melhor maneira possível. Ok! Nada contra dietas, academias, cirurgias e outros serviços à serviço da beleza (?)/ saúde (?). A Questão é verificarmos à qual condição estamos nos igualando. Seríamos somente corpos? O que está por trás do desejo de modificar o corpo? Pensamos em saúde ou somente na estética? São questões que merecem uma analise minuciosa e um refletir diário. São nas piadinhas, comentários e modos de se relacionar com o outro, que cada um de nós vai reforçando padrões e exigências sociais impostas.


Como profissional de saúde, atrevo-me a dizer que um bom início de conversa seríamos aprender a focar a Saúde de maneira mais ampla. E por saúde cuidarmos do bem estar do nosso corpo, das nossas emoções e sentimentos e de nossas necessidades.

OS CUIDADOS NA ESCOLHA DO PROFISSIONAL CORRETO


Acabo de ler a notícia de que um psicólogo australiano está sendo acusado de escravizar sua paciente, obrigando-a a usar coleiras. Recordei-me que caso semelhante ocorreu em Anápolis (GO), quando o suposto psicólogo brasileiro colocou fogo na cama para “auxiliá-la” no processo psicoterapêutico.


Houve um duplo sentimento: um que apontava para o desvio ético e de caráter dos sujeitos em foco. Ser psiquiatra, psicólogo, psicopedagogo, psicoterapeuta ou psicanalista não faz de ninguém em tese, alguém melhor.


O diferencial é que, nós profissionais da área psi, sabemos que temos que passar pelo processo de análise, contar com o apoio de um supervisor e interromper qualquer caso que seja quando sentimos que estamos com dificuldades para separar o que é pessoal do profissional. Sobre a supervisão cabe lembrar que o sigilo profissional é mantido e nenhum dado que possa identificar o paciente é colocado em risco. Conversamos com outros profissionais sobre a melhor maneira de ajudar nossos pacientes.


O outro sentimento de que falei segue o caminho da técnica e dos métodos. Nenhum psicólogo que se preze vai desrespeitar os limites de seu paciente. Quando o objetivo da terapia/ análise é auxiliar o paciente a superar-se, o processo elabora-se e é elaborado com base na relação paciente/ psicoterapeuta.


A saber, o código de ética brasileiro, não permite o uso de cristais, incensos ou qualquer outra prática que não tenha conteúdo verdadeiramente terapêutico, manter o vínculo com o paciente ou mantê-lo sob tratamento se não há mais a necessidade de tal procedimento, bem como PROMETER cura ou prever resultados. A Proibição é racional: como poderia o psicoterapeuta prometer um resultado que independe de seus esforços? É na relação paciente/ psicoterapeuta (como já dito) que o processo irá elaborar-se e obviamente, depende do quantum de investimento o paciente faz em sua própria terapia no sentido de comprometer-se e envolver-se. Para tal, é imprescindível que exista o vínculo entre ambos.


Sem esse vínculo é impossível trabalhar.


Para se defender dos farsantes, saiba que é de seu direito perguntar onde e quando se formou, se há comprovantes de tal formação, qual linha metodológica ele adota, o por quê de suas práticas. Caso não se sinta confortável com algo, diga ao seu psicoterapeuta, discuta com eles os pontos necessários para ajustes e reajustes da relação.


Quanto mais confortável você se sentir com seu psicoterapeuta, mais confiança irá adquirir para falar de si mesmo e mais o profissional poderá auxilia-lo em suas questões.