quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

SEJAMOS RICOS, FELIZES, JOVENS E MAGROS


A morte da modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos nos últimos dias, reforça a (já) velha questão: “ Vale a pena ultrapassar os nossos limites para ter um corpo tido como o ideal?”.


Primeiro analisemos a raiz das questões ligadas ao corpo, o que, diga-se de passagem, são inúmeras: obesidade, comer compulsivo, anorexia, bulimia e vigorexia. Vivemos em uma sociedade de consumo exagerado e de espetáculo. Nesta sociedade, a imagem ganha importância que supera a identidade, fazendo com que muitas pessoas sofram por não atingirem ou terem as medidas do que é considerado ideal. E qual é esse ideal? Nossa sociedade de consumo, imagem e espetáculo também é uma sociedade que prega a juventude eterna e alegria sob qualquer custo. Por juventude idealiza-se uma época na qual o corpo está em pleno desenvolvimento, a vida sexual no auge e ainda se está livre das obrigações da vida adulta, bem como as transgressões são permitidas (ou tidas como parte do processo). No começo da matéria cito a profissão da jovem morta: modelo. Modelo do quê exatamente?


Algo está fora do controle: parece que há uma verdadeira obrigação em ser feliz (ou mostrar-se feliz) o tempo todo. Tal exigência cultural recaí sobre nossas cabeças diariamente nas capas das revistas: “Está deprimido? Faça abdominais”, “Perca x quilos em x dias e seja feliz”, “Mude, você consegue mudar seu corpo” (quase um correlato com “Você pode mudar sua identidade”).


Quem não é magro (ordem dirigida em especial ao público feminino) ou forte (ordem dirigida ao público masculino) está fora. Fora de que exatamente? Fora de ser alvo de ser o consumo ou um produto a ser consumido. Desejamos ser consumidos (ou valorizados) por nossa imagem e não por aquilo que realmente somos.


Jung pontuava a divisão da vida em duas fases distintas: a primeira (abrangendo a primeira metade da vida) faria com que nos preocupássemos em TER; já a segunda, viria de encontro às questões mais subjetivas e nos preocuparíamos em SER. Claramente vemos que há um desequilíbrio. Estamos impregnados com a questão do TER: ter o melhor corpo, o melhor cônjuge, o melhor emprego, melhor carro.


A insatisfação e os obstáculos (ou limitações) não são bem vistos culturalmente falando e espera-se que todo sujeito faça de tudo para ser feliz o tempo todo, desrespeitando os próprios limites e ritmos humanos.


Não incomum, vemos as pessoas tentando resolver suas questões mais íntimas nas academias (isso quando o pavor de ser magro/ gordo/ fraco não impede até mesmo a aproximação com academias) e se esquecendo de verificar a raiz de seus desejos.


A questão ligada ao corpo embute uma outra ainda maior e mais delicada: “ O que são homens e mulheres?” ou “Que noções do que é ser homem/ mulher estamos reforçando?” Podemos pensar na hipótese de que ser homem ou mulher é ser um produto para ser consumido, embalado e propagado da melhor maneira possível. Ok! Nada contra dietas, academias, cirurgias e outros serviços à serviço da beleza (?)/ saúde (?). A Questão é verificarmos à qual condição estamos nos igualando. Seríamos somente corpos? O que está por trás do desejo de modificar o corpo? Pensamos em saúde ou somente na estética? São questões que merecem uma analise minuciosa e um refletir diário. São nas piadinhas, comentários e modos de se relacionar com o outro, que cada um de nós vai reforçando padrões e exigências sociais impostas.


Como profissional de saúde, atrevo-me a dizer que um bom início de conversa seríamos aprender a focar a Saúde de maneira mais ampla. E por saúde cuidarmos do bem estar do nosso corpo, das nossas emoções e sentimentos e de nossas necessidades.

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